
Kenzaburo Oe, escritor japonês, venceu o Premio Nobel da Literatura em 1994. Mas não é de livros que te venho “falar”.
No Outono de 1962, a esposa de Kenzaburo engravidou. Os médicos detectam uma hidrocefalia grave no bebé e aconselham um aborto imediato. Nessa altura Kenzaburo está de partida para Nagasaki para entrevistar médicos que trataram as vítimas da bomba atómica, e o casal decide que no seu regresso tomariam a decisão sobre o possível aborto.
Nos hospitais de Nagasaki, Kenzaburo recolhe relatos extraordinários de resiliência na adversidade e amor ao próximo. A dedicação e a maneira como os médicos tiveram de propiciar conforto às vitimas da bomba atómica têm um imenso impacto nele. E a cada entrevista, Kenzaburo vai olhando para o seu próprio drama pessoal com outro olhar.
Quando regressa de Nagasaki, Kenzaburo abre o seu coração à esposa Yukari e o casal decide, perante tamanhas histórias de transformação e esperança, lutar com todas as suas forças pela Vida da criança que crescia no útero materno.
O bébé nasce e é necessário fazer uma cirugia de risco para retirar parte do crânio. Os médicos dão poucas hipóteses do pequeno Hikari sobreviver à cirugia, e mesmo que sobrevivesse, viveria para sempre como um vegetal. Aconselham vivamente a morte do bébé como a melhor solução para todos mas Kenzaburo e Yukari assumem os riscos e autorizam a operação.
O pequeno Hikari (significa Luz) sobrevive à cirugia mas fica com sequelas irreversíveis. Autismo, cegueira parcial, epilepsia e um défice profundo, tanto a nível motor como cognitivo.
A criança não fala, não comunica e quase não se move. Mas aos 6 anos, num passeio ao ar livre, acontece algo extraordinário. Ao ouvir um pássaro cantar, o pequeno Hiraki imediatamente o identifica.
Os pais entusiasmados recolhem todas as gravações possíveis de cantos de pássaros. Com o tempo, identifica todos os pássaros só pelo seu canto num jogo de adivinhas em que se torna imbatível.
Seus pais decidem então contratar uma professora de piano com esperança de criar espaço de crescimento ao seu filho. A música é a única forma de expressão da criança.
A mãe de Hiraki é grande fã de Mozart e pede à professora para que se possível, ensine a Hiraki algumas composições simples de Mozart.
A criança não fala. Quase não vê e mal se move. Mas um dia, aos 11 anos, a professora chega a casa e Hiraki entrega-lhe uma partitura escrita à mão de maneira rudimentar, e a professora começa a interpretar a partitura e fica incrédula.
São estruturas muito assimiláveis às composições mais básicas de Mozart. A professora não acredita no que está a ver e pede que Hiraki componha mais. O pequeno assim o faz e continuou a fazer.
Hoje Hiraki Hoe é um dos compositores de música clássica contemporânea mais vendidos no Mundo. Mesmo com autismo, incapacidade visual significativa, epilepsia, entre outras.
Raramente fala, mas comunica com o Mundo de uma forma intensamente bela através da música.
A transformação vinda do Amor.
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